domingo, 19 de maio de 2013

vero romântico


Para Edna e Fran

Você mijou na minha boca! Eu estava calado, porque era tudo verdade o que me dizia. Quanta honestidade nesse nosso amor. A vida só existe com honestidade, o resto é ficção. Poder dizer que durante a manhã estava indisposto por causa de uma diarreia, é para poucos que eu digo. Por isso as lágrimas estão soltas pelo rosto, correm livremente pelos sulcos da pele. É tudo água. Veio d’água. Sou feito de água e deve ser por isso que fico tão difícil em dia de lua cheia. A maré sobe e viro pura arrebentação. Não me contenho. 

sábado, 4 de maio de 2013

Foda-se tudo isso

Com o coração atordoado dizendo: vá! e logo retrocede: volte que é perigoso! Você pode se danar... Por que ir se é mais fácil voltar? Rever os familiares, beijar os pais e esquecer que as coisas desejam te suprimir como a um grão de ervilha. Estou tão suprimido, tão próximo da loucura que pular dois degraus é como me jogar de um desfiladeiro. Pedras rolando, gritos de socorros inexistentes e a vida correndo por outro lado. Certo ou não, discutirão os filósofos. Não nós, meros humanos. Talvez eu não esteja acostumado a ser humano, esse corpo pretensioso a se manter em pé ante qualquer adversidade da vida. Sou daqueles que se dobram diante a vida, como a um animal morto de fome, sede ou fumo. Quero a fumaça das brumas e todo o mistério que ela contém. Não me basta sorrir para estranhos, quero lhes beijar e senti-los animais como a mim. Quero abraçá-los e dizer que a vida se resume a isso e nada mais. Talvez dormir bem seja o grande remédio de tudo. Eu que morro a cada noite com meus pensamentos na cama, com minhas masturbações de gozos fracos que fazem meu braço direito reclamar: troca de braço, dá trabalho para o esquerdo que eu já não aguento mais teu prazer improfícuo! Ahhhh, quem não aguenta mais sou eu, porra de braço, eu que durante as noites gozo sozinho! Soubesses o quanto é triste não me repreenderias! É como cozinhar para si mesmo, matar sua própria fome, comer como um rei, mas não dar de comer a quem também tem fome! E o mundo inteiro tem tanta fome que mesmo se pudesse alimentá-lo haveria outras fomes que não poderia extingui-las. Depois da fome sólida, vem a fome da arte e da própria vida. Retornaremos ao movimento modernista brasileiro: comer-me-íamos! Antropofágicos e iridescentes os dentes manchados de sangue kandiskyano, discutindo sobre a cor e a forma. Foda-se tudo isso! Pelo menos por enquanto que desejo clareza mental como diria uma amiga. Só quero Deus na ponta do dedão do meu pé. Quero gritar um grande foda-se para o mundo que por enquanto não me diz nada além de: caminha, sangra teus pés como um mártir, que tarde, mas muito tarde, os frutos de teu sacrifício florescerão como pomos de ouro.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Palavra

Se você fosse mais poético, o inaudito seria dito sem recusas. Saberia que sexo não é fazer posição de yoga, que o Kama Sutra está fora de moda e que um papai e mamãe bem feito poder ser muito mais gostoso. Mas estão todos irreversivelmente virados e revirados sem saber em qual posição ficar. E toda e qualquer palavra além é motivo de obscenidade. 

A palavra é a força do convalescente. 
A palavra é meu comprometimento com a honestidade. 
A palavra é a minha barricada revolucionária contra os balbuciadores ineptos e falidos de amor.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...