sexta-feira, 30 de maio de 2008

Arte Conceitual = Mente vazia, oficina do Diabo ou O conto da vovozinha



As palavras que se seguem, decorrem de uma repentina e fortuita parada na capacidade de pensar, um estado meditativo que se apossou da mente de nosso ilustre personagem Martinho, cujo, possibilitou-me de invadir sua mente enquanto esta permanecia no vácuo.

Antes, porém, temos que saber o conceito de vácuo; recorramos à física para isso. Vácuo, ausência total de matéria, no entanto pode ser entendido de diversas formas, pois o vácuo absoluto, que realmente é a ausência total de matéria é apenas teórico, existindo assim, a remota possibilidade de existir o vácuo absoluto em alguma galáxia. Dessas coisas de vácuo só entendo de garrafa térmica que mantém meu café quentinho; essas coisas de galáxias e perdições além me intrigam muitíssimo. Ademais, pensamento é matéria?

Levando-se em consideração que pensamentos são impulsos elétricos e que corrente elétrica é composta por elétrons que por sua vez possuem carga negativa e massa irrisória de alguma coisa elevada à outra alguma coisa, então, sim, pensamento é matéria, e que se somarmos veremos que realmente o papo de que de grão em grão a galinha enche o papo, é realmente verídico e irrefutável. Por que adoram nos inculcar com esses ditadinhos? Sempre tem alguém com esses postulados na ponta da língua ou na ponta da mesa que aproveitam o ensejo e despejam a conta para o azarado que se sentou à ponta.

Voltando ao Martinho após todas essas conclusões científicas.

Martinho, homem de coragem, boníssima pessoa e freguês da mesma padaria que freqüento aos sábados pela manhã, foi lá que o conheci. Homem mediano, esguio e com sobrancelhas delgadas sempre pede um pãozinho com ovo “estalado” na manteiga sem sal acompanhado de um café expresso, coisa de elite. Na verdade isso é tudo o que sei.

Na verdade o Martinho nunca existiu; também, nunca vai à padaria todos os sábados pela manhã, e nunca foi tomado por uma brusca estagnação de sua mente. Mas a proposta é boa, e este conto é arte puramente conceitual, onde a idéia inicial é relevantemente superior ao resultado obtido, e por isso precise de uma legenda, aqui vai:

Idéia do conto: E se repentinamente eu parasse de pensar, o que aconteceria?
Leitor, se repentinamente você parasse de pensar, para onde escoaria essas suas monstruosas dúvidas e lembranças?Ficariam guardadas em alguma parte de seu cérebro ou você permitiria que alguém te invadisse e te roubassem-nas?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Ah, esses Jovens Sindicalistas




Começo este conto porque já se faz urgente, porque as palavras insinuam fugir, porque inúmeros porquês surgem em simples aberturas de armários, gavetas e roupas entranhadas por naftalina. Partimos daqui.

Inverno de alguma data não muito precisa. Marta levanta-se com o corpo dolorido por ter dormido em posição fetal, mais cansada do que quando se deitou à noite anterior. Faz tempo que ela não sabe o que é ter um sono de verdadeiro relaxamento. Já na cozinha, Marta reacende seu cigarro que mantém escondido na gaveta de talheres, há dois anos que ela adquiriu este hábito de fumar meio à noite e meio de manhã. Toma um gole de guaraná que a esperta, e segue rotina.

Marta possuía apenas vinte e dois anos, fumava há dez; começou por que achava elegante àquelas mulheres de Hollywood que apareciam sempre nos filmes. Fez faculdade de música, e era muito bem sucedida financeiramente. Tocava na orquestra estadual. Não era casada e nem tinha filhos, sempre acreditou que não viera ao mundo para trazer mais gente, povo já tinha demais e o planeta não suportaria mais uma avalanche de novos humaninhos. Morava sozinha, sem nem ao menos um gato para fazer-lhe companhia, e sua vida não era insuportável por todas essas suas não personagens adquiridas pelo tempo, quem sabe isso tivesse algum papel secundário, todavia o que tornava sua vida uma merda era aquela monotonia monocromática que ela tinha que aturar pela manhã.

Então, existe um breve momento, breve, mas que perdura o tempo exato para que tu percebas que deves procurar um novo caminho, revolucionário em essência, que te leves para mundos desconhecidos, românticos, colorido de vermelho de boca de menina nova e sensual ou de vermelho vestido-para-matar e este momento acontece agora.

Marta abre a gaveta de seu guarda-roupa para pegar sua luva. O cheiro de naftalina, bafo de tempo morto conservado a formol, invade-a pela narina e a desestabiliza, por reflexo segura-se para não cair, porém, decide cair, solta em queda livre, pronta para se permitir existir. Momento impasse, passo ou me passa? Opta por passar.

Ela põe seu violão sobre as costas e abandona o violino, maldito instrumento que a conquistou pela estabilidade financeira em uma orquestra. Leva também algumas roupas, pouco dinheiro, iria ser artista de rua, viajar e viajar sem rumo certo, andarilho de praça mostrando o melhor que tem, pelo o mínimo que os transeuntes têm a oferecer, quem sabe um prato de comida, uma parada repentina para ouvir o que ela tinha para tocar e cantar, isso já seria maravilhoso, ter a atenção de alguém nesse mundo que tem pressa de tudo, e se morresse, já morreria feliz.

Tocava desesperadamente, romanticamente, pois estava farta de ser a menina comedida em suas emoções (as pessoas realmente não possuem espelho em casa), de ser guiada por essa arte ultrajante que é o realismo, que nos impele a crer apenas no palpável, no cimento e terra vermelha que é esse chão. Essa ciência que nos impõe certezas, postulados, axiomas e postulados, axiomas como deue piasamos. de omos, que merda,que que de tão coerente nos transborda com mais dúvidas, receios, espasmos musculares, e fortes enxaquecas, dessas dores tipo panela de pressão. Por que não basta existir apenas, pensava ela. Essa foi a segunda vez que foi esbofeteada.

Assim seguira por muitos dias, muitos, mas não suficientes para contabilizar um mês. Sim ela desistiu, jogou a toalha branca e foi cuidar dos ferimentos do marido que voltara da guerra. Não, ela não tinha marido, insisto em lembrar, e a família que antes lhe pertenceu, há muito tempo já havia se desgarrado, quando nova, ainda mais nova que agora, quando contra a vontade de todos fora estudar música.

Estudou música, violino, como já mencionei, se formou, não sem antes vagabundear como calouro, isto inclui festas, porres, beijos e sexo à vontade; noites arregaladas numa esquina rindo-se de qualquer coisa que passasse pela rua. Irá, o leitor, me perguntar o porquê de eu voltar nos tempos de faculdade de Marta se o conto já principia ao fim? A resposta é simples: alguns fatos só nos vêm à mente quando já estamos encerrando, tal qual quando abrimos a boca para dizer a alguém algo importantíssimo e acabamos por esquecer de mencionar, então, antes que me culpem por encobrir algo... lembrei, foi para mostrar esse sindicalismo utópico que Marta sempre sentira correr nas suas veias com tanto ardor, porém que coagula fácil e mata esses sonhos de revolução.

Foi assim com essa vida de moribunda que estava tentando levar, até estava aderindo bem, mas suas costas já doíam por culpa do banco de ripas em que ela se deitava todos os dias que decidiu voltar pra casa. Colchão box de mola, comida-fácil-abre-e-fecha, põe na água e está pronto, quentinha e até apetitosa. Arranjaria desculpas convenientes por seu afastamento no trabalho e estaria tudo solucionado.
Quem sabe uma próxima vez me adapte melhor? Vou limpar aquelas gavetas e pôr um sabonete de lavanda. Que bom pisar nesse tapetinho de liquidação home sweet home, até parece que tenho um lar?! Momento impasse: Passo ou me passa? Translado para dentro, agora sim, home sweet home.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Alento II



Os deveres se amontoam defronte a minha porta como crianças pedindo por atenção, são tantos e de tantas espécies matemáticas que a meu ver, suas resoluções devem estar nesse momento na galáxia mais próxima que a via Láctea faz divisa, se é que há divisas no infinito, logo, não há chances de encontro com o gabarito pelo menos em alguns milhões de anos-luz.

Existem vários momentos que tento fretar uma nave espacial, decolar, atravessar a atmosfera, viajar e viajar, todavia, também nesses vários momentos a exaustão intumesce meus músculos tornando-os tão flácidos e inapetentes que esmoreço por ali mesmo, - sou jovem, mas sem forças -, dispensar energia numa aventura errante é ato suicida.

Não me encorajo a ir à luta e transpor as galáxias como muitos fazem; invejo-os todos os dias. Como conseguem ser heróis do cotidiano? Como conseguem espichar logo pelas cinco da madrugada; comerem um pão molhado no café com leite e seguirem a diante resolvendo seus problemas e no fim do expediente chegam e ainda possuem a capacidade de beijarem seus cônjuges e seus filhos. Invejo-os porque não tenho em mim esse espírito que a vida imbuiu-lhes, um espírito “vai à luta homem”.

O espírito que a vida imbuiu-me é destes que já estão frágeis, moles, deve ter sido um espírito há muito usado por um daqueles heróis – por instantes uma idéia reencarnacionista passou-me como flash – seria eu um jovem herói de velho alento? Prefiro que seja assim, que eu seja um guerreiro pós-guerra, admitido novamente à vida com o único dever de contar sobre as suas vagas lembranças de algo que longinquamente viveu; recordações que viraram pó. Sedimentaram-se. E àqueles cálculos já não são mais problemas e eu não preciso martirizar-me por não fazê-los, meus deveres não são eles e isso me alivia tal como ficar nu em casa nos dias de temperatura elevada. Estou tão vivo dentro das minhas possibilidades.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...