terça-feira, 7 de setembro de 2010

Poemas Curtos (Completo)




No ato de normalizar as coisas
perdi o senso de justiça.
Não que me fosse preciso
julgá-las impróprias,
mas sim, a falta de sentir na fala
a resoluta ardência de quem
diz que isto é Isto.

\
Vi deitar do céu, silenciosamente,
e logo se estender sobre o chão,
as nuvens que pairaram sobre o dia.

\
Intercalo i s t o de puro silêncio
enquanto for noite
e o indistinguível branco
perdurar em descanso
sobre a paisagem.
Eu, menino, pisei descalço o branco noturno...

\

Eu, menino, pisei descalço o branco noturno
e tolhido de dizer que sentia frio,
emudeci...

\
Desconsidero a vida naquilo que não grita,
porque cumula a morte sobre a língua
ou engole e lhe envolve
de maior silêncio.
Como uma porta que não range
é perdida de sentido,
a que range
é teoria cinéfila de horror.

\

Depois de tanto silêncio,
é natural que queira do estilhaço
o momento da quebra.

\

Sim,
a resposta será continua
e esgarçada até que se invalide
por decisão própria ou que por ventura
desabe o mundo.
Percorrendo-se o tempo,
o grito muda de tom, ora abafa, ora ufana,
mas o que lhe impinge
é a mesma dor de ontem.

\

Espere,
que meu coração é feito de matéria estranha:
nem ardido nem brando no sol da meia-noite;
aquele que se poria, não se pôs ainda:
sol antropofágico de Tarsila:
re-devoro-me
nos pequenos versos.

\

Falo isto como se ordenasse à alma
severa obediência a mim
e parece que da próxima vez que abrir a boca,
estarei no alto, nas asas de algum abutre
e como as nuvens, me deitarei em chamas
resoluto no meu direito de arder.


 

6 comentários:

  1. Um grande poema em todos os sentidos. É difícil conseguir fazer um poema deste tamanho ser interessante e belo até o fim. Os desenhos são teus?

    Um beijo

    Josi

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  2. Olá, olá.

    Obrigado pela tua visita.

    Belo poema e belos desenhos.
    Gostei muito.

    Um abraço forte!

    ResponderExcluir
  3. Muito bom, Rafael! Intenso, bem ritmado, gostei.

    Beijo.

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  4. Josi,

    Os desenhos são meus sim. obrigado pelas palavras.

    Dinis e Lara,

    Obrigado pela visita e pelos elogios.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  5. cara, esses seus desenhos me fazem arregalar os olhos sempre... sabe qdo uma uma coisa grita com vc e te esbofeteia a cara?.. é mais ou menos assim.. risas..

    *parabéns pelos poemas curtos... o instante de cada um se refez...

    abraço grande.

    ResponderExcluir
  6. cara, esses seus desenhos me fazem arregalar os olhos sempre... sabe qdo uma uma coisa grita com vc e te esbofeteia a cara?.. é mais ou menos assim.. risas..

    *parabéns pelos poemas curtos... o instante de cada um se refez...

    abraço grande.

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o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...